Ciro Gomes - Recall: A verdadeira esquerda ressurge


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Como historiador não consigo usar os termos “esquerda“ e “direita” de forma oposta ou muito diferente do que eram quando surgiram, na Revolução Francesa, quando os deputados que apoiavam o Rei, os poderes da monarquia, simpáticos ao Antigo Regime, às coisas velhas, os conservadores portanto, sentavam-se à direita do presidente do parlamento, e os que queriam a República, maior participação popular, reduzir os poderes do Rei, transformações políticas, ajuntavam-se à esquerda.

Outra Revolução, a Soviética, deu nova camada de significado a esses conceitos, pois desde então “direita” passou a ser sinônimo de defesa do capitalismo, e “esquerda” de defesa do socialismo. Note-se, porém, que esses novos significados estavam então ligados aos primeiros – A Revolução se chamou Soviética porque o poder foi tomado para os Soviets, ou seja, para a democracia extrema, em que todos podiam participar diretamente das decisões, depor governantes etc.

Desse ponto de vista, há muitos anos o Brasil não tem uma verdadeira esquerda! Em seus 14 anos de governo, ao invés de ampliar a participação popular, o Pt continuou, como desde antes de assumir o governo, a tentar limitá-la! Criou uma Lei de banalização do Terrorismo, que se volta contra os movimentos sociais; Tentou criar um Conselho censor da imprensa; Não distribuiu rádios aos Sindicatos e Universidades, mas continuou distribuindo-os entre políticos corruptos; Continuou tentando eliminar os Sindicatos locais, de base, engolindo-os com sindicatos nacionais ou estaduais que são mais fáceis de aparelhar e impossíveis de controlar pela base; Internamente substituiu a democracia participativa congressual por eleições diretas, ou seja, pela “democracia” do dinheiro; Nos DCEs e Sindicatos é contra substituir a democracia burguesa por formas mais participativas; Quando cria conselhos municipais nas cidades que administra, fazem questão de que a maioria dos membros sejam controlados pelo prefeito. Em resumo, pelo critério da Revolução Francesa o Pt e seus partidos anexos são de direita.

Também a “esquerda” não-petista está longe de ser esquerda pelos padrões da Revolução Francesa. Da boca para fora prega a ampliação da democracia, cada seita dando a isso um nome que lembra as Revoluções Socialistas, como o PCB, que defende o “poder popular”. Mas defendem para um futuro distante, depois da Revolução, e defendem dessa forma vaga, fluida. Morfologicamente “democracia” e “poder popular” são sinônimos, o que então defende o PCB e similares? Defendem que aguardemos a Revolução perfeita, e que até lá nos resignemos ao regime político que temos. Reformá-lo seria inútil ou impossível. Lembram muito as religiões, que pregam a resignação, a impossibilidade de mudar o mundo real, e que se aguarde o Paraíso. O resultado prático, como com nas religiões, é conservador, é de direita.

A última vez que uma esquerda de verdade existiu (com força histórica) no Brasil foi quanto uma imprensa alternativa, cuja folha mais forte era o Pasquim, enfrentou a ditadura e defendeu reformas democráticas. Desde então só tivemos conservadores! Uns pintados de vermelho, outros de azul, uns pedindo voto em nome da justiça social, outros liberalóides, mas ninguém tem proposto reformas democráticas plausíveis, realizáveis.

Nesse contexto surge a candidatura de Ciro Gomes. Surge, porque é nova, apesar dos 37 anos de carreira política sem manchas de Ciro Gomes. Muitos cabos eleitorais de Ciro Gomes estão perdendo tempo buscando provar a coerência de Ciro, porque não são historiadores acostumados ao debate recente sobre biografias. Os biógrafos de até poucos anos atrás tentavam tornar seus biografados “coerentes” em toda a sua vida, e isso sempre exige forçar a barra, esconder ou supervalorizar episódios, porque seres humanos evoluem! Ciro é hoje muito mais preparado, mais bem informado, mais avançado em termos de política econômica do que em sua época de ministro de Itamar, há 20 anos atrás! De fato, tentar provar que qualquer pessoa é a mesma hoje que há 20 anos atrás é duvidar da inteligência dessa pessoa. Se águas passadas não movem moinhos, em política é pior, é perigoso o apego ao passado, pois Eunício de Oliveira e Dilma não são mais guerrilheiros, Lula não é mais sindicalista, Mussolini um dia foi do Partido Socialista Italiano!

Ciro Gomes não propõe o socialismo! Ele não é um proletário, nem representa o proletariado. Ele não propõe o “poder popular” nem nada similar aos soviets. Mas ele defende o recall, ou seja, a revogabilidade dos mandatos. É uma velha bandeira do proletariado revolucionário, a mais interessante da Comuna de Paris, incorporada pelos Soviets, e que a pretensa “esquerda” brasileira, seja ela petista ou não-petista, teme! Não aplica nem aos Sindicatos e DCEs que dirige. Um candidato a presidência da República, forte nas pesquisas, propor o recall é a coisa mais avançada que eu já vi em todas as eleições presidenciais. Para quem tem dúvidas, está na página oficial dele: https://todoscomciro.com/reforma-politica/

Claro que o Brasil precisa de diversas outras reformas políticas, e Ciro não está falando de todas elas, mas ele teve o mérito de propor logo a mais importante, a mais avançada, o que facilita o caminho para todas as outras. É sabido que ele tem ou teve simpatias pelo parlamentarismo, por exemplo, que seria, ao contrário da choradeira ignorante dos petistas, um grande avanço democrático para o Brasil – os parlamentos deixariam de ser a lixeira pública e se tornariam minimamente sérios, porque os eleitores teriam que votar pensando em quem elegeriam para primeiro ministro, ao invés de votar no “candidato da região”, ou no “macaco Simão”.

Pode-se confiar em Ciro? Pode-se confiar em qualquer político? Os políticos importam o discurso que fazem!  Não se pode adivinhar o que as pessoas realmente pensam, muito menos o que pensarão nos anos seguintes, então nosso modelo político pseudo representativo é sempre um exercício de adivinhação (daí a importância do Recall). Por que votar então? Vota-se no discurso, do qual o candidato é somente um vetor. Então se Ciro Gomes tiver 30% dos votos no primeiro turno, pense ele o que ele pensar, estará dito ao mundo que 30% dos eleitores concordam com as propostas dele. Ele queira ou não a revogabilidade dos mandatos no íntimo, na prática 30% dos eleitores terão apoiado publicamente o recall (revogabilidade).

Os pseudomarxistas brasileiros, se chegaram a esse ponto do artigo, devem estar enfurecidos, pois pensam que marxistas não devem se preocupar com reformar a democracia burguesa. Ainda não entenderam o que realmente é o poder, o que realmente é luta de classes! São estranhos “marxistas” que não estudaram as lutas entre patrícios e plebeus em Roma, nem mesmo leram que para Marx o movimento mais revolucionário dos operários ingleses foi o Cartismo, em que os operários só pediam direito ao voto; que deputados ganhassem salários (se não nunca poderiam ter um deputado operário); que os mandatos fossem anuais (similar ao recall) e reivindicações econômicas como jornada de 10 horas diárias. Na verdade, para nossos pseudomarxistas Marx seria um pelego, porque não era utópico, não era blanquista, apoiava (lede Manifesto) qualquer avanço democrático burguês.

Como marxista, notando que a era petista terminou, eu buscava uma saída que acarretasse o mínimo de prejuízos para o proletariado (historicamente os períodos socialdemocratas geram enormes prejuízos na forma de reações da direita). Como a direita brasileira tem um projeto colonial e escravocrata (duas coisas diferentes mas que sempre andaram juntas – é difícil manter colônia um país de pessoas livres, e difícil escravizar pessoas de um país livre), Ciro Gomes já era uma opção pois continua apontando para o progresso, a soberania nacional (da qual os petistas e troskistas nunca foram muito afeitos), o desenvolvimento econômico. Mas com a proposta do Recall Ciro foi além, oferecendo ao povo brasileiro um novo poder, muito maior do que eleger. Na prática, a proposta mais revolucionária que está na mesa!

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